Atletismo na Educação Física Escolar: incentivando a prática pedagógica na formação
- Artmann, Kelin Streb (Universidade Federal de Santa Maria - UFSM);
- Neves, Elizabeth Lima Amaral (Universidade Federal de Santa Maria - UFSM);
- Ficanha, Elidiane Emanueli (Universidade Federal de Santa Maria - UFSM);
- Costa, Leandra Costa (Universidade Federal de Santa Maria - UFSM);
- Neu, Adriana (Universidade Federal de Santa Maria - UFSM)
O conhecimento não nasce isolado, ele emerge do diálogo entre diferentes vozes que atravessam o tempo, (Bakhtin, 1997). Para Vygotsky (1991), é na relação com o outro que o sujeito amplia suas possibilidades e dá novos significados ao mundo. Ao pensar a Educação Física como prática pedagógica e humana, Kunz (1994) denota uma inspiração crítica, provocando rupturas e questionamentos sobre formas engessadas de ensinar e aprender. Já Matthiesen et al. (2005) relatam a importância da busca pela construção de sentidos e da compreensão da complexidade que envolve corpo, movimento e sociedade. Essas obras, quando colocadas em conjunto, transformam-se em pontes que possibilitam uma visão muito além da técnica, pois mostram uma compreensão da educação como gesto de humanidade. O Programa de Licenciaturas (PROLICEN), da Universidade Federal de Santa Maria, busca potencializar a qualidade da formação docente ao favorecer a inserção dos licenciandos no contexto escolar. A proposta promove a articulação entre as disciplinas de formação básica e pedagógica, além de contemplar conteúdos e práticas que, por vezes, não estão formalmente previstos nos currículos. Nesse processo, os acadêmicos têm a oportunidade de integrar-se às ações pedagógicas desenvolvidas nas escolas e de colaborar com professores em exercício, fortalecendo a aproximação entre universidade e rede escolar (Universidade Federal de Santa Maria [UFSM], 2025). O objetivo deste trabalho é descrever as ações realizadas por uma acadêmica de Educação Física Licenciatura, vinculada ao programa de ensino, durante as práticas de ensino do atletismo para alunos de uma escola do campo. Trata-se de um relato de experiência, elaborado com base nas vivências de uma acadêmica durante as ações desenvolvidas no ensino do atletismo em uma escola do campo de um município do interior do Rio Grande do Sul. O atletismo é considerado esporte-base na educação física escolar, pois envolve movimentos fundamentais do ser humano (correr, saltar, lançar e arremessar). Apesar de sua importância, essa modalidade ainda é pouco explorada na Educação Física escolar, sendo muitas vezes reduzida a modalidades específicas ou apenas ao viés competitivo (Matthiesen et al., 2005; Kunz, 1998). Todavia, no ambiente escolar apresentado, foi possível identificar um contexto altamente propício ao desenvolvimento do atletismo, por se tratar de uma influência cultural da escola em que a prática é valorizada. Exemplo disso, são os jogos escolares do município e o envolvimento com as atividades que a própria Universidade proporciona. Essa tradição ainda contribuiu para a formação do interesse de turmas, extremamente empolgadas e motivadas para a realização das aulas. Durante a experiência no ensino do atletismo, os alunos manifestaram um alto nível de envolvimento. Tal fato proporcionou a exploração de aulas variadas, indo muito além do aspecto motor, promovendo aprendizagens sociais, cognitivas e afetivas. Dessa forma, o planejamento das aulas seguia uma estrutura organizada, alinhando momentos de conversação inicial e rápida contextualização da modalidade, aquecimento com educativos, atividades lúdicas, com integração que favoreciam o trabalho em equipe, além da simulação de movimentos do atletismo, com ou sem uso de materiais. Após esses momentos, realizava-se a prática específica, passando pelos fundamentos e apresentando aspectos técnicos, priorizando o nível de desenvolvimento de cada aluno. Esse processo dialógico e progressivo corrobora com a ideia de que o ensino deve considerar as experiências prévias dos estudantes, respeitando sua diversidade e ritmo de aprendizagem (Freire, 1996). A vivência no contexto escolar mostrou-se significativa tanto para os alunos, que puderam aumentar suas possibilidades de vivência corporal e socialização, quanto para a acadêmica em formação, que pôde desenvolver habilidades de planejamento, comunicação e didática. Como destaca Pimenta (1999), programas de formação docente constituem importantes aliados para a construção da identidade profissional, na medida em que aproximam os futuros professores da realidade escolar e favorecem a reflexão sobre a prática. Logo, o ensino do atletismo na escola contribuiu para reforçar a noção de que a Educação Física deve ir além da reprodução técnica, assumindo um papel crítico, formativo e inclusivo (Bracht, 1999). Conclui-se que o ensino do atletismo, aliado às ações do PROLICEN, configura-se como uma experiência pedagógica potente, capaz de promover a formação integral dos alunos, fortalecer o processo de inclusão e consolidar a prática docente em sua dimensão crítica e reflexiva.