19:Educación Física y Vejez

Letramento corporal e escrito: ressignificando a Educação Física na EJA

  • Santos, Jade Kelly Nascimento (UFSM)
  • De Freitas, Caroline Silva (UFSM)
  • Souza, Maristela da Silva (UFSM)
Resumen

Letramentos corporais e escritos: ressignificando a Educação Física na EJA
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) constitui um espaço fundamental de reinserção social e educacional para sujeitos que tiveram sua trajetória escolar interrompida. Na etapa inicial, equivalente à alfabetização, observa-se um público heterogêneo em termos de idade, histórias de vida e experiências, o que exige dos docentes sensibilidade, adaptação metodológica e valorização das especificidades. A Educação Física, embora por vezes considerada secundária nesse contexto, desempenha papel essencial ao promover saúde, bem-estar e socialização, favorecendo a permanência e o sentimento de pertencimento ao ambiente escolar. O objetivo deste trabalho é relatar uma experiência em docência orientada de Educação Física na EJA – etapa 1, destacando os principais desafios e aprendizados de um semestre de atuação com uma turma composta por estudantes com média etária de 55 anos. O estágio foi realizado em uma escola municipal, em uma turma de aproximadamente 7 alunos, condição que inicialmente parecia favorecer a aproximação com os estudantes, mas que também gerou dificuldades para a dinâmica das aulas. A média de idade era elevada, variando entre 50 e 70 anos, e muitos apresentavam restrições físicas comuns dessa faixa etária, como hipertensão e dores articulares. Tratava-se, ainda, de um grupo em processo de alfabetização, o que demandou adequação da linguagem, das instruções e das estratégias metodológicas. As práticas pedagógicas contemplaram o planejamento e a aplicação de aulas semanais, considerando as condições de saúde, os interesses dos estudantes e o impacto do cansaço decorrente da jornada de trabalho, já que as aulas ocorriam no período noturno e grande parte da turma exercia atividades laborais de caráter físico intenso. Entre os desafios identificados, destacou-se a dificuldade em propor atividades coletivas em uma turma reduzida, a necessidade de adaptar práticas à realidade etária, priorizando movimentos leves e de baixa intensidade. Observou-se, ainda, heterogeneidade significativa quanto à disposição, à coordenação motora e ao interesse nas aulas, o que exigiu flexibilidade constante no planejamento. Também se verificou resistência inicial de alguns estudantes, que não reconheciam a relevância da Educação Física no currículo, associando-a apenas ao esporte competitivo. Esse cenário reforçou a importância de ressignificar a disciplina, destacando sua contribuição para a saúde, o convívio social, a autoestima e a motivação. Ressalte-se que, para muitos estudantes, a prioridade declarada era a alfabetização, compreendida como instrumento de autonomia e emancipação. Diante dessas dificuldades, foram implementadas estratégias que valorizassem o movimento em sentido amplo. As aulas priorizaram jogos coletivos adaptados, estimulando o trabalho em equipe e evitando comparações objetivas. Utilizaram-se atividades de memória motora, exercícios de coordenação fina com demanda cognitiva, além da introdução de modalidades esportivas desconhecidas para o grupo, como o padel. A escuta ativa configurou-se como ferramenta central: ao consultar os alunos sobre preferências e interesses, notou-se aumento do engajamento e da participação. A experiência também evidenciou que o papel docente transcende a aplicação de conteúdos prontos, exigindo sensibilidade para identificar necessidades e criatividade para adaptar práticas. Os relatos pessoais foram incorporados às atividades, como exercícios inspirados em brincadeiras da infância (jogo da memória, caça-palavras, atividades de colorir e tiro ao alvo). Essas estratégias aproximaram as aulas da realidade dos estudantes e fortaleceram sua participação ativa. Ao longo do semestre, verificou-se que os estudantes passaram a compreender a Educação Física não apenas como prática de exercícios, mas como espaço de convivência e cuidado de si. Relataram melhorias no bem-estar, redução de dores e satisfação em reencontrar os colegas, reforçando a relevância pedagógica do trabalho. Observou-se também maior confiança em experimentar novos movimentos, mesmo diante de dificuldades, o que contribuiu para o fortalecimento da autoestima. A análise da experiência evidenciou que o ensino requer paciência, respeito ao tempo individual e disposição para a aprendizagem mútua. Conclui-se que a Educação Física na EJA, especialmente em turmas de alfabetização com faixa etária avançada, desempenha papel fundamental na promoção da qualidade de vida, da socialização e da autoestima. A vivência do estágio permitiu compreender a complexidade e a riqueza desse campo de atuação, mostrando que, embora permeado de desafios, é possível desenvolver práticas significativas quando se respeitam as singularidades dos estudantes e se planejam de maneira contextualizada. Essa experiência representou um marco formativo, ao evidenciar que cada movimento pode transformar a relação do sujeito consigo mesmo, com o outro e com o processo educativo.