Ensinar em contextos distintos: a influência da infraestrutura nas aulas de Educação Física
- De Freitas, Caroline Silva (UFSM)
- Santos, Jade Kelly Nascimento (UFSM)
- Ilha, Phillip Villanova (UFSM)
Ensinar em contextos distintos: a influência da infraestrutura nas aulas de Educação Física
A infraestrutura escolar, composta por espaços físicos, materiais didático-pedagógicos, instalações e equipamentos, exerce papel determinante na qualidade das aulas de Educação Física (Ferreira Neto, 2020). Quando adequada, permite a ampliação de experiências e conteúdos relacionados à cultura corporal, diversificando as possibilidades de ensino e aprendizagem. Em contrapartida, a ausência de estrutura limita o trabalho pedagógico, exigindo do professor criatividade e adaptação constantes para que o processo formativo não seja comprometido. Considerando esse contexto, o presente trabalho tem como objetivo relatar e refletir sobre o quanto os ambientes físicos e os recursos materiais influenciam as aulas de Educação Física, a partir da comparação entre duas experiências contrastantes vivenciadas nos estágios supervisionados de Educação Física. A primeira experiência ocorreu em uma escola da rede federal de ensino, situada dentro de uma universidade pública, o que possibilitou acesso a diferentes espaços e materiais. Foi possível utilizar ambientes como piscina térmica, pista de atletismo, ginásios, quadras de esportes de raquete e laboratórios com peças didáticas (peças de anatomia). Além disso, a instituição dispunha de equipamentos em boas condições, como bolas de diferentes modalidades, raquetes de badminton, tatames e slackline. Esse contexto permitiu a acadêmica desenvolver uma grande variedade de modalidades aos alunos, desde esportes tradicionais até práticas menos convencionais, como natação, ultimate frisbee e slackline. O desafio, nesse caso, não estava na falta de recursos, mas sim na necessidade de conhecer, planejar e conduzir atividades que explorassem ao máximo a diversidade de possibilidades que a infraestrutura oferecia. Assim, exigiu-se um olhar atento para a organização das aulas, para a adequação pedagógica de cada modalidade e para o potencial formativo que a pluralidade de experiências poderia gerar. Em contraste, a segunda vivência ocorreu em uma escola estadual de ensino fundamental, cujo espaço disponível para as aulas se resumia a um pátio descoberto, com piso irregular, sem goleiras e com uma única cesta de basquete de madeira. A marcação da quadra era improvisada e não oficial, e o conjunto de materiais era bastante restrito: apenas uma bola de basquete, duas de voleibol, alguns colchonetes e bambolês em estado mediano de conservação. Essa escassez impôs limites claros às possibilidades pedagógicas, restringindo a diversidade de conteúdos. Nessa realidade, o desafio para a acadêmica foi criar estratégias para que as práticas esportivas fossem viáveis, o que envolveu adaptar recursos, emprestar materiais e reinventar atividades, muitas vezes utilizando objetos alternativos, como raquetes improvisadas e bolas de papel. Embora essas soluções tenham permitido a execução de algumas modalidades, a precariedade dos recursos restringiu a continuidade e a profundidade das experiências formativas, dificultando o alcance pleno dos objetivos da Educação Física. Ao comparar os dois contextos, percebe-se que a presença ou ausência de infraestrutura influencia diretamente não apenas a quantidade, mas também a qualidade dos conteúdos desenvolvidos. No ambiente favorável, a amplitude de espaços e materiais abriu caminho para uma formação mais rica e diversificada, contribuindo para o contato com modalidades variadas da cultura corporal. Já no ambiente precário, embora houvesse esforço e criatividade para superar os obstáculos, as limitações estruturais reduziram a pluralidade de experiências possíveis, evidenciando a desigualdade entre as condições de ensino. Essas vivências no estágio permitiram compreender que os desafios para o professor variam de acordo com o contexto, em espaços privilegiados, o papel docente está em planejar, selecionar e potencializar a diversidade de experiências, assegurando que a abundância de recursos se converta em aprendizagens significativas. Já em ambientes carentes, o desafio é ser criativo, adaptar atividades e não permitir que a falta de materiais comprometa a formação dos alunos. Em ambos os casos, a ação docente é essencial, mas os caminhos a serem trilhados são distintos. Portanto, os estágios revelaram de forma prática o impacto que a infraestrutura escolar exerce sobre o ensino da Educação Física. Enquanto uma estrutura favorável amplia as possibilidades de trabalho pedagógico e enriquece o repertório cultural dos alunos, a estrutura precária limita o ensino e exige constantes estratégias de adaptação. Ressalta-se, assim, a necessidade de políticas públicas e investimentos que garantam melhores condições para as escolas, possibilitando a todos os estudantes o acesso a aulas de Educação Física mais diversificadas, qualificadas e significativas.
Referências
Ferreira Neto, R. B. (2020). Infraestrutura escolar e Educação Física: tensões e conflitos. Estudos Em Avaliação Educacional, 31(76), 231–256. https://doi.org/10.18222/eae.v0ix.6547