Gincana Abelhão: estratégia de integração e desenvolvimento social
- Dias, Kamilly (UFSM)
- Rist, Gabriélli (UFSC)
- Da Costa, Leandra (UFSM)
- Da Silva, Willian (UFSM)
A Gincana Abelhão, realizada durante a disciplina de Estágio Supervisionado II do curso de educação física licenciatura da Universidade Federal de Santa Maria, constitui-se como uma potente estratégia pedagógica voltada à integração, à solidariedade e à cidadania no ambiente escolar. Inspirada no mascote da escola – a abelha, símbolo universal de cooperação e organização – a proposta articula ludicidade, coletividade e responsabilidade, reafirmando o papel da Educação Física como área promotora de aprendizagens significativas.
Segundo Cecchetto (2008), a Educação Física escolar deve assumir um papel transformador, promovendo experiências corporais que favoreçam a autonomia, a cooperação e o respeito à diversidade. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é apresentar a Gincana Abelhão como uma prática pedagógica que promove ludicidade, coletividade, responsabilidade e interação entre os alunos, reafirmando a função social da Educação Física escolar.
A gincana ocorre anualmente, ao longo de aproximadamente um mês, encerrando-se nas festividades de aniversário da instituição. As equipes, formadas por estudantes de diferentes turmas, anos e turnos, são acompanhadas por professores regentes e por um líder estudantil, o que favorece a convivência entre faixas etárias distintas e o desenvolvimento da liderança e da corresponsabilidade.
As atividades seguem um cronograma com prazos e regras claras, incluindo penalizações em caso de descumprimento, o que estimula a organização, o planejamento e o respeito às normas coletivas. As tarefas propostas contemplam uma diversidade de dimensões: físicas, culturais, artísticas e solidárias. O tradicional Campeonato Abelhão de Futsal, os jogos cooperativos e os desafios motores destacam a contribuição da Educação Física, que, segundo Bracht (1999), vai além do desenvolvimento técnico, favorecendo aprendizagens sociais e culturais.
Paralelamente, atividades como arrecadação de roupas, alimentos e livros, doação de sangue, oficinas de saúde e preparação de alimentos saudáveis fortalecem vínculos comunitários e estimulam práticas interdisciplinares. A customização de camisetas, a produção de refrigerantes caseiros e outras ações criativas ampliam o repertório dos estudantes, integrando saberes de diferentes áreas como Ciências, Matemática, Artes, Língua Portuguesa e Educação Física.
Durante o período da gincana, a escola se transforma em um espaço dinâmico de aprendizagens, no qual valores como solidariedade, empatia e respeito são vivenciados de forma concreta. Observou-se que alunos antes pouco participativos passaram a se engajar ativamente, demonstrando iniciativa, criatividade e senso de responsabilidade. Esses resultados evidenciam o potencial da gincana como catalisadora de mudanças comportamentais e formativas, promovendo a inclusão e a valorização das diferentes formas de expressão.
Outro aspecto relevante refere-se ao impacto da gincana na formação docente. A Gincana Abelhão oportunizou aos futuros professores experiências de escuta ativa, mediação de conflitos, planejamento coletivo e construção de relações pedagógicas mais horizontais com os alunos. Essa vivência fortalece a prática da gestão democrática e a perspectiva de uma educação voltada à cidadania, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que destaca, entre suas competências gerais, a valorização do trabalho colaborativo, do repertório cultural, da responsabilidade e da cidadania (Brasil, 2018).
Neste sentido, ao articular ludicidade, interdisciplinaridade e práticas solidárias, a gincana contribui diretamente para o desenvolvimento de competências como empatia, resolução de conflitos, pensamento crítico e protagonismo estudantil.
Em síntese, a Gincana Abelhão apresenta-se como uma prática pedagógica que vai além do entretenimento, assumindo intencionalidades educativas claras e mobilizando competências fundamentais para a formação integral dos estudantes. Além disso, ao unir práticas corporais, culturais e sociais, reafirma a escola como espaço de construção de vínculos e de transformação de realidades, valorizando a cooperação, a cidadania e o respeito às diferenças como princípios essenciais da vida em sociedade.
Referências
BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2018.
CECCHETTO, Elgio. Educação Física: possibilidades de intervenção pedagógica na escola. Porto Alegre: Mediação, 2008.
KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994.
PIRES, Gilberto Luiz. Educação Física escolar: fundamentos de uma abordagem crítica. Ijuí: Unijuí, 2002.